Desrespeito: Cadê Inclusão?

Desrespeito: Cadê Inclusão?

Portadores de necessidades especiais, que vieram a Brasília para um congresso, dão e cara com a falta de acessibilidade e caso vai parar até na polícia.

 

No primeiro dia da 3ª Conferência Nacional dos Direitos da pessoa com deficiência, o sentimento de dezenas de pessoas que vieram de São Paulo para participar do evento em Brasília foi de decepção e indignação. Cadeirantes e acompanhantes afirmam ter passado por constrangimentos em série depois de rodar por quatro hotéis da cidade, sem conseguir acomodação adaptada, mesmo tendo resevas em mãos. Muita gente sequer conseguiu tomar banho por falta de estrutura adequada. A filha de um dos participantes registrou queixa na polícia contra um dos hotéis.

Pelo menos 30 participantes, incluindo integrantes de delegações estaduais, chegaram a Brasília por volta de 13h de domingo e seguiram, de ônibus, para o hotel St. Peter. Na recepção, descobriram que não havia quartos suficientes nem a confirmação de reservas de todos os hóspedes. A presidente da Associação de Valorização e promoção de Pessoas com Deficência (Avape), Priscila Boveto, estava entre os hóspedes. Ela conta que conseguiu fazer registro, mas quando entrou no quarto, viu que o espaço não era adaptado às suas necessidades de cadeirante. “O banheiro parecia um corredor. Não tinha como entrar com a cadeira por causa das portas estreitas. Todas essas especificações estão na minha ficha de cadastro para o evento”, reclamou.

A gerente geral do St. Peter, Valéria Linhares, explicou que o hotel dispõe de 16 habitações adaptadas e que isso foi informado à organização da conferência, responsável pela logística e hospedagem dos delegados estaduais, como Priscila. “mandaram mais pessoas com  necessidades especiais do que a quantidade de quartos disponíveis. Conseguimos acomodar algumas nos quartos especiais, mas as demais tiveram de ser levadas para apartamentos normais”, disse.    

A advogada Marisa Trupel, integrante da delegação de São Paulo, reclamou do tratamento que recebeu dos funcionários. “Disseram para nós resolvermmos os nossos problemas porque eles já estavam com os deles. Quer dizer, as pesoas com deficiência estão sendo constrangidas na própria conferência para qual elas vieram”, criticou. O delegado do Ceará, Xyco Teophilo, foi ainda mais duro. “Esse é o país que vai sediar uma olimpíada, uma Paraolimpíada e uma Copa do Mundo, em que o deficiente  estará excluído. Uma vergonha.”

 

Experiência Horrível    

Muitos decidiram fazer o check out no St. Peter e procurar outros estabelecimentos credenciados para receber e participantes. Por fim, os cadeirantes conseguiram se hospedar no Phenícia. Apesar de os quartos não serem adaptados para receber pessoas com necessidades especiais, os ambientes são um pouco maiores. “Arranjaram um fisioterapeuta para nos ajudar a entrar no banheiro e tomar banho. Mas a experiência de Brasília foi horrível. Conversei com pessoas do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência – Conade, e disse a eles que tudo o que nós estamos discutindo sobre acessibilidade e inclusão é uma mentira aqui. Teria sido melhor ficar em casa”, lamentou Priscila.

 

Fonte: Jornal Impresso aQui, de Brasília/DF. Matéria exibida no dia 04 de dezembro de 2012.